Meu nome é Felipe Raso e vou começar esse blog contando como decidi dar o passo mais importante da minha vida!
Sabe quando te perguntam o que você quer ser quando crescer? Então, desde sempre minha resposta era:
– Quero ser professor de educação física!
Mesmo jovem conseguia perceber o calafrio que meus pais tinham toda vez que ouviam isso e, naturalmente, como todo pai que ouve o filho falar besteira, tentavam me dissuadir da ideia.
Com o passar do tempo, fui convencido que não era possível ser o que eu queria, procurei uma saída. Ao fazer o teste de aptidão profissional com minha psicóloga, o resultado não poderia ser diferente: 1º lugar – Educação Física, 2º lugar Música. Mais uma vez tive que procurar uma saída, ou seja, qualquer coisa que me interessasse e que fosse facilmente aceito por todos, logo tive que optar por medicina, direito ou engenharia.
Filho de professora de matemática, meu caminho seria mais fácil na engenharia, e aí está o grande erro da maioria de nós: optar sempre pelo caminho mais fácil.
Nesta época de grandes decisões, comecei a fazer aulas de forró no Pé Descalço. Sempre gostei de forró, mas não imaginava que além de passinhos eu iria aprender sobre classes sociais, sobre valores, sobre humildade, sobre frustração, sobre paixão, sobre seriedade, sobre vontade, sobre autoestima, sobre amizade, sobre lealdade, sobre sexo, sobre respeito… Não imaginava que iria encontrar algo que me deixasse tão feliz e que fizesse eu me sentir tão completo. Quando chegava o dia da aula, eu não conseguia pensar em mais nada e, quando eu estava no PD, o mundo lá fora não existia mais.
Agora eu me via realmente atrelado à educação física, mas toda vez que eu confrontava minhas vontades com as dificuldades de se ganhar a vida com a dança eu regredia, mesmo quando meu pai falava que eu poderia ser um vendedor de bananas, desde que eu fosse o melhor dos vendedores de bananas.
No terceiro ano me inscrevi na turma de exatas porque o meu futuro como engenheiro estava certo. E por mais seis meses eu confrontei meu sonho e minha realidade semanalmente. e na semana da inscrição do vestibular eu estava assistindo a uma aula de funções, que curiosamente era ministrada pela minha mãe, quando me veio um desespero como jamais havia sentido. Eu não conseguia suportar a ideia de fazer aquelas contas 8 horas por dia nos próximos 40 anos, levantei da cadeira e enquanto andava para fora da sala disse para minha mãe que eu iria fazer educação física no vestibular.
Passei em 1º lugar no único vestibular que prestei, e tive a primeira lição que eu não deveria ter esquecido tão cedo: quando fazemos o que amamos somos muito mais eficientes e muito mais felizes no processo.
Nos primeiros anos, ainda muito inexperiente, fui vendo tudo o que me diziam fazer mais sentido, que era uma vida difícil, que não se ganhava dinheiro, que não dava pra sustentar a família. E Novamente fraquejei e procurei o caminho mais fácil. Iniciei um curso de engenharia civil noturno.
Me fez muito bem no começo, eu ia bem nas provas e eu era um grande destaque na minha família por fazer duas graduações simultâneas. Poucos anos depois me formei em educação física e não tinha mais nenhuma desculpa para não fazer estágio em engenharia. Consegui um intercâmbio por um ano pela engenharia civil, mas o que mais me marcou durante minha experiencia fora foram minhas horas dedicadas ao Lindy Hop, uma dança de salão americana.
Esse ano também acabou e mais uma vez eu me vi na posição de ter que começar de vez minha carreira de engenheiro; segunda vez que me bateu o desespero. A luz no fim do túnel foi descobrir um concurso público que tinha entrada pelo ENEM, UFA!! Uma saída. Eu poderia ter um salário fixo, um horário flexível e trabalhar com o forró a noite.
Agora era faculdade de manhã, cursinho a tarde, minhas turmas de forró a noite e tudo estava claro e tranquilo novamente… Até que eu comecei a ficar depressivo. Não percebia que eu estava trabalhando firme para deixar meu sonho em segundo plano, minha vida social tinha acabado, meu ânimo para fazer as coisas que gosto tinha acabado, mas meu foco era inabalável, mas eu achava que estava fazendo o que era necessário para salvar meu sonho.
Graças a Deus falhei no que nunca havia falhado antes: falhei naquilo que nunca havia sido um problema pra mim. Um deslize no ENEM e eu já sabia que não tinha feito nota suficiente para passar no concurso. Mais uma vez preso e dessa vez sem saída e sem desculpas. Mas a vida dá muitas voltas e como num passe de mágica surgiu a oportunidade de trabalhar com a educação física numa rede de hotéis internacional. Não pensei duas vezes e saí de casa pra morar em são Paulo.
Agora sim eu estava completo, consegui fazer da educação física
minha vida e havia conquistado independência financeira. Porém, não havia me dado conta que eu não tinha largado um futuro infeliz na engenharia, mas sim um futuro feliz no forró e que novamente eu estava buscando a saída mais fácil.
Eu não podia mais dançar, trabalhava 16 horas por dia e vivia dentro de uma prisão de luxo. Eu estava longe da minha paixão, estava longe de casa e agora sim a depressão começou a apertar. Meus pais me pediam pra voltar pra casa todo dia, mas não queria voltar para a engenharia e me vi preso mais uma vez. Minha família sabia que eu estava insatisfeito, mas não sabiam o quanto.
Finalmente tomei coragem para voltar pra casa e tentar a vida como professor de dança. Ao chegar em casa o desespero bateu recordes, eu finalmente estava a um passo de correr atrás dos meus sonhos e isso me aterrorizava. E se eu falhar? E se não der? E se eu não for bom o bastante? E se eu não for o melhor vendedor de bananas? Ao consultar minha psicóloga fui encaminhado as pressas ao psiquiatra para que pudesse começar o tratamento medicamentoso. Foi quando minha família percebeu a gravidade da minha situação e me deu o apoio que eu precisava para enfrentar os novos desafios.
Com o apoio dentro de casa, cada passo dado era comemorado como
uma vitória e, ouvindo meu pai repetir que nada resiste ao trabalho, consegui finalmente abrir minha unidade do Pé Descalço. Foi a primeira vez que eu olhei para o meu futuro e enxerguei que poderia finalmente ser feliz.
Desde então o combate à depressão andou a passos largos e, pela segunda vez, eu senti que ao trabalhar com que amamos somos mais eficientes e nos deliciamos com o processo. Os melhores dias da minha vida são os dias que vou trabalhar e os dias de folga são cheios de
ansiedade pra chegar o próximo dia de aulas.
Eu precisei ter depressão pra ter coragem de mudar minha vida e seguir meu sonho. E você?
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Lindo relato. Em um mundo que procuramos o sucesso no dinheiro. O mais importsnte é ser feliz fazendo o que amamos.
…” cada um de nós compõe a sua história
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz”
Parabens Lipe.
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CLARO QUE AS LÁGRIMAS ROLARAM SEM PEDIR LICENÇA. TE AMO FILHO LINDO.
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Nossa Raso, que testo tocante… Esse turbilhão de sentimentos normalmente fica escondido por trás de um sorriso, de uma pessoa “feliz”. Muito bacana vc compartilhar sua história, sabemos que são milhões de jovens que passam ou já passaram por essa fase. Você transmite todo esse amor pela dança através de suas aulas. Esse é o seu lugar!
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Que legal, Raso! Parabéns pelo seu testemunho e pela coragem para tanta coisa! Você sempre foi alguém que inspirou e transmitiu amor e alegria. Continue assim! Grande abraço!
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Parabéns Lipão, por este aprendizado caro, raro e que te faz mestre na vida!
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina)
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Bonito demais o texto cara!
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