O pé descalço é uma escola famosa por avaliar seus alunos e separá-los em rodas com cores diferentes. Porém o que pouca gente fora da escola sabe é que cada uma das cores utilizadas nesta divisão possui um significado. Juntos esses significados formam as diretrizes filosóficas de uma caminhada que muda a vida de todos que decidem segui-la com o coração aberto.
Obs: Não sou o criador da filosofia. Estou apenas compartilhando a minha visão sobre ela após 10 anos vivendo-a. ( Rick Rezende é o criador do pé descalço e idealizador da filosofia)
HUMILDADE
Ao entrar para a escola os alunos são contemplados com o colar transparente. Este colar, já no primeiro momento, trás a característica mais valiosa para a escola. Para o Pé Descalço a humildade não é simplesmente a virtude de reconhecer as próprias limitações e de se colocar abaixo de uma figura de superioridade relativa. Levamos muito a sério o poder de aprender com toda e qualquer pessoa a todos os momentos, não só as técnicas da dança, mas também nossas qualidades como ser humano.
É esta qualidade que permite com que a escola esteja em constante evolução, se reinventando a cada novo ciclo. Sempre buscando conhecimentos gerados por outros profissionais em outras danças ou outras áreas do conhecimento. Temos uma sede pelo novo pois entendemos que a cada dia podemos ser melhores se pararmos para avaliar nossas ações e buscar o aprendizado que vem de todas as partes.
Entendemos as críticas como um presente que o outro nos trás, e buscamos aceitá-las e e assumir a responsabilidade da autotransformação. No momento em que os alunos compreendem este viés do colar transparente, passam a ser donos da própria evolução e param de dar desculpas e de transferir a responsabilidade das suas limitações para os outros ou para alguma condição desfavorável. O resultado é uma ascensão da pessoa em todas as suas potencialidades.
Muitos ainda confundem humildade com autodepreciação ou falsa modéstia. Ao evoluir em um campo da vida não precisamos ter medo nem vergonha de assumir que somos bons naquilo, desde que não percamos de vista que sempre temos para onde continuar evoluindo.
DESPERTAR
O segundo colar da escola leva a cor branca. Representa o despertar da pessoa para um novo universo de possibilidades. A imagem que a pessoa tem da música, da dança, de toda a comunidade e da cultura ao redor do forró passa a ser resignificada diariamente. Vários tabus começam a ser quebrados em relação ao próprio corpo ao corpo do outro, e também sobre as escolhas das pessoas em todos os âmbitos da vida.
E a cada instante percebemos o quanto cada elemento do forró se conecta. O praticante com o outro, a música com o praticante, a música com a cultura, a cultura com a história, a história com as transformações e com as novas tendências da cultura. As movimentações e as condições culturais históricas dos primeiros praticantes e dos praticantes atuais. Há uma infinidade de saberes a serem desvendados e vividos, há tanto por vir e aquilo que há por vir será influenciado por aquele novo praticante que se insere em um mundo de humilde que tem sede de ser de aprender e de ser transformado por aquele que acabou de chegar.
VONTADE
Com a cor azul vem a vontade, momento em que o aluno já percebeu todos os benefícios que a comunidade do pé descalço consegue proporcionar, e agora ele tem todo o gás e expectativa de viver tudo isso que foi vislumbrado. A pessoa já se sente totalmente à vontade nos ambientes de forró e sabe que aquele é o seu novo local, seu novo refúgio, . A cada dia percebe que é possível evoluir e aprender as coisas que antes pareciam impossíveis e inatingíveis.
O aluno percebe que seu corpo passa por uma transformação diferente de tudo que ele havia vivenciado, a cada nova prática vai domando seus próprios movimentos e se tornando senhor de si mesmo e com isso vão se elevando a autoestima e a autoconfiança. E a sensação é tão boa que a vontade só cresce de continuar evoluindo.
SERIEDADE
Chegamos ao colar de cor preta. O forró pra essas pessoas já não é um simples hobbie, é um estilo de vida. É quando o aluno começa a entender as responsabilidades que ele tem com a escola e com os novos alunos. O aluno passa a ser uma referência para quem chega e precisa de amadurecer ainda mais sua humildade para não deixar com que os novos olhares sobre ele o tornem alguém arrogante.
Ele desperta para novas técnicas, mais profundas e elaboradas, e sua vontade de mestrar cada uma delas revela que sem seriedade e disciplina com o seu próprio aprendizado o resultado que ele almeja não será alcançado. O aluno percebe o quão longa ainda é a caminhada pela frente e que ele pode desfrutar do caminho sem pressa dando a devida atenção a cada recurso aprendido.
A partir da preta é que o aluno passa a ser elegível para entrar no processo de instrutor da escola, e começa a entender que existe seriedade, compromisso, dedicação por trás de cada brincadeira ou zoeira feita pela equipe. Começa a compreender a importância de proporcionar um sorriso ou de convidar um novato para dançar.
PAIXÃO
O colar vermelho é o da paixão. Um misto de gratidão com responsabilidade. A filosofia da escola está empregada na pessoa. A vontade de fazer o projeto da escola crescer ocupa os pensamentos dessa pessoa constantemente e ela compartilha das preocupações e das alegrias de fazer com que a escola esteja sempre animada e acolhedora.
Trabalhar com a dança provavelmente passa pelos projetos de vida destas pessoas mesmo que como ocupação secundária. Elas trazem uma história particular da sua caminhada com a dança repleta de eventos marcantes que a dança proporcionou ao longo do seu caminho. A pessoa pouco a pouco também deixa a sua marca e influência diretamente a maneira de dançar forró nos locais em que frequenta.
O prazer de ver novas pessoas descobrindo o forró é maior que o prazer de dançar em si. A paixão pela dança nos faz querer espalhar a dança e levar o forró para tantos lugares e pessoas quantos forem possíveis. A motivação de um vermelha é compartilhar com as pessoas a chance de mudar maneira com que elas veem a vida, seu corpo, a cultura, as outras pessoas, a música e proporcionar a chance de transformar a vida de cada vez mais gente através da comunidade do forró.
Agora fica o convite para você me visitar e viver essa filosofia maravilhosa em uma de minhas unidades em Belo Horizonte, ou alguma unidade da rede Pé Descalço (BH, São Paulo, Santo André, Niterói, Juiz de Fora, Contagem e Londres).
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Putz, cara ! Dessa vez, vc se superou !! Esse texto ficou super completo, educativo, engrandecedor e motivacional. Adorei vc mencionar que o PD leva a sério o poder de aprender, um dia ouvi essa frase que levo para a vida “quem não senta para aprender, não levanta para ensinar” e somos seres rodeados de pessoas que nos agregam em tudo e só é possível desfrutarmos disso, de forma satisfatória e verdadeira, se estivermos sempre abertos ao aprendizado, ao crescimento, a evolução. Estamos, mesmo, sempre nos reinventando a cada novo ciclo que a vida nos apresenta, e são muitos ciclos pelos quais passamos nessa vida. Existe sim uma “responsabilidade da autotransformação” (que frase fantástica, digna, do Sérgio Cortella), Ser flexível na dança e na vida é uma DÁDIVA !! Não existem lugar para instransigência no mundo em que vivemos. E, uma vez entendido isso e inserido nesse mundo, sentimos exatamente o que vc constatou, ou seja, que aquele é o nosso novo local, novo refúgio, aquela é “minha tribo”, faz parte da minha identidade, um estilo de vida!! Me vejo exatamente nessa fase a qual enxergo claramente o “quão longa ainda é a minha caminhada mas posso desfrutar desse caminho sem pressa, dando a devida atenção a cada recurso aprendido. PARABÉNS PELO TEXTO!!
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“Quem não ensina o que aprendeu, não merece o que sabe”, ditado Árabe.
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