Gostaria de começar o texto dizendo que a nossa mania de duelar entre os estilos de forró e discutir qual o mais legítimo, qual o melhor, qual é mais ligado às raízes ou qual é mais atual só nos afasta enquanto comunidade. A única análise que pode realmente nos levar a algum lugar e trazer benefícios ao nosso conhecimento é a de compreender cada um dos estilos e quais suas principais características. E fazer isso sem nenhuma forma de preconceito para que possamos nos influenciar cada vez mais para que haja uma aproximação entre os estilos. E não tentar separar o que cada um pode ou não fazer ao dançar e acabar segregando as pessoas de um mesmo movimento.
Ricardo Speschit ( confira a seção dele aqui no blog) renomado dançarino e professor de dança de salão, já relatou dos prejuízos causados pela constante subdivisão dos estilos no zouk. Segundo ele cada estilo de zouk cria suas próprias movimentações de modo que em um baile de zouk várias pessoas não conseguem dançar entre si. É claro que cada estilo é valioso à sua maneira, porém é mais saudável quando há admiração entre eles de forma que se influenciem do que quando há uma disputa por qual é o melhor, o que acaba forçando cada um a se diferenciar e se afastar mais e mais.
Pé de Serra
O forró Pé de serra é todo forró que dialoga diretamente com as primeiras maneiras de se tocar forró, herança trazida do tradicional trio idealizado por Luiz Gonzaga: zabumba, triângulo e sanfona (Antes deste trio tradicional o forró era tocado com o triângulo o melê e a rabeca). O pé de serra aceita a inclusão de demais instrumentos em sua formação como o violino, violão, pandeiro, cavaquinho até mesmo a guitarra e a bateria, porém a base principal das músicas ainda se suporta no protagonismo da zabumba do triangulo e na sanfona.
Dentro da cena da dança no forró pé de serra temos dois estilos principais: Universitário e o Roots (também chamado de forró itaúnas).
Universitário
Esse estilo de forró ganhou grande força a partir do final da década de 90, tomou os clubes das cidades após a febre da lambada. O Falamansa é uma banda que representa bem o esteriótipo do forró universitário. Além das canções próprias as banda deste estilo ajudaram a trazer uma nova roupagem às músicas de artistas mais antigos de grande sucesso, como Luiz Gonzaga, Jackson do pandeiro, Marinês, Dominguinhos e tantos outros trios importantes para o nosso forró.
As bandas do forró universitário ajudaram e ainda ajudam as músicas tradicionais a serem melhor aceitas pelo público mais jovem. Assim como a música trouxe influências atuais para suas versões.
Acopanhando as das bandas a dança também foi atrás de influência na salsa, no zouk no west coast swing para poder desenvolver a complexidade e trazer mais conhecimento técnico para dentro da dança que ainda era muito pouco estudada e era tida como uma dança simples e fácil nas escolas de dança de salão.
O forró universitário possui uma dança inicialmente junta, porém se abre para que amplas possibilidades de floreios de braço e inúmeros giros possam acontecer. Os dançarinos do estilo universitário também gostam de dançar ao som de músicas que não são necessariamente classificadas como ritmos tradicionais de forró( xote, baião, xaxado, coco, arrastapé etc…)
Roots ou Itaúnas
O forró roots apesar, do nome remeter às raizes do forró, é um movimento bem atual que buscou nos conhecimentos de samba e de tango, a força para aprimorar a complexidade e a variedade de movimentações que utilizam principalmente as pernas e possui predominância do abraço fechado.
Os dançarinos de roots tem a clara preferencia por músicas de gravações mais antigas, as versões originais das músicas e adoram bailes com músicas tocadas em vinil. É ao mesmo tempo uma atualização da dança fechada e um movimento de resgate à valorização dos precursores do forró.
Eletrônico
O forró eletrônico também chamado de tecnobrega é a maneira com que o forró se atualizou nos estados norte e nordeste do brasil. São bandas que utilizam o triângulo e a zabumba em segundo plano e tem na bateria e na guitarra a nova identidade. É o estilo de forró mais atacado , pois os amantes do pé de serra não consideram que o tecnobrega seja forró de verdade. Calcinha Preta, Mastruz com Leite e Aviões do forró são grandes precursores deste estilo que faz um enorme sucesso no norte e no nordeste do Brasil e mais recentemente ganhou as massas dos demais estados brasileiros através de Wesley Safadão.
Muitos nortistas e nordestinos chamam o Forró eletrônico apenas de Forró (claro que existem pessoas dessas regiões que ainda consideram o pé de serra como forró e chamam a nova versão de tecnobrega). Há ainda pessoas que não consideram o forró eletônico como forró. Com certeza o forró eletrônico parece ser mais desconfigurado em relação ao forró pé de serra tradicional, mas isso não faz dele um elemento completamente separado do movimento forró e é possível perceber a influência do forró pé de serra (principalmente o xote) em várias das canções. Inclusive as formas de se dançar o forró eletrônico são as que mais se aproximam às danças mais tradicionais do coco, do amassa cacau do miudinho e tantas outras técnicas resgatadas nesta dança.
O wikipedia diz que o forró eletrônico faz uma sexualização da dança por ter influências da lambada, salsa e bachata dominicana. Porém acredito que essa forma de dançar o forró é uma forma de rua, e os profissionais do forró eletrônico que conheci ao longo da minha caminhada dançam uma dança técnica e embasada em danças mais tradicionais nordestinas. Os movimentos como o bate bate e a metralhadora que são movimentações supostamente mais “sexualizados”, são na verdade tratados com seriedade pelos profissionais, como os demais passos.
É curioso pois a maior variação na música encontra suporte na dança mais tradicional e a dança mais nova busca dançar as músicas mais antigas. É importante que os praticantes do forró pé de serra não desvalorizem o forró eletrônico, pois isso só gera uma grande ruptura no nosso cenário. O forró eletrônico também tem a capacidade de formar uma comunidade saudável que muda a vida daqueles que o praticam e separar este estilo por uma preferência musical é exatamente o tipo de preconceito que buscamos remover da cena do forró como um todo. Tudo bem você não ser fã da música ou da dança, agora dizer que isso não é forró pelo simples fato de você não gostar está muito além do sua alçada.
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